O texto a seguir foi uma das tarefas da ONHB, assim como as imagens ao final deste.
Preconceito Religioso
Discutir
religião ainda é um assunto sério na sociedade brasileira. Imagine
o que poderia passar alguém que decidisse trocar de denominação
religiosa a décadas atrás. A história de Delíria Duarte de
Oliveira, 83 anos, ilustra bem essa situação.
A
senhora Delíria mudou-se para Campo Bom, RS, no final dos anos 40.
Aos 17 anos casou-se com Arnildo Duarte de Oliveira, 88 anos. Ambos
eram fiéis católicos, que cediam a residência da família para
celebração de missas. Batizaram todos os 12 filhos na comunhão
católica.
Contudo,
na década de 50, o marido começou a escutar um programa de rádio
intitulado “A Voz da Profecia”, da Igreja Adventista do Sétimo
Dia. O senhor Arnildo escutou o programa por 5 anos, e enviou
correspondência pedindo mais informações acerca da denominação
religiosa. Por fim, a família inteira converteu-se ao adventismo do
sétimo dia, tornando-se uma dos primeiros conversos na cidade.
Como
na cidade ainda não havia uma igreja, Delíria e Arnildo novamente
cederam a residência e começaram ali a realizar cultos onde
influenciaram outras pessoas a entrar para a Igreja Adventista.
Mas
a nova fé trouxe obstáculos na convivência social. Delíria relata
que muitos amigos e familiares afastaram-se em decorrência. Nos
meses posteriores ao batismo, dois filhos do casal morreram e a
vizinhança publicamente declarava que era uma maldição devida a
mudança de religião. Os comentários foram tantos que eles chegaram
a plantar bananeiras na divisa do terreno para as pessoas não
olharem os momentos de cultos.
O
senhor Arnildo que costumava fazer as compras do mês da família em
um estabelecimento tradicional da cidade, recebeu a notícia do
proprietário do comércio que não mais venderia a crédito para a
família pelo fato de ele e a família terem se batizado em outra
religião.
Esse
preconceito manifestado contra a família da Dona Delíria, chega a
ser contraditório, na cidade que possui a primeira Igreja Luterana
do sul do Brasil. Por este fato, Campo Bom é pioneira do
protestantismo no Brasil.
A
liberdade de crer em que se quiser é uma premissa da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 18º é expresso: “Toda
a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou
de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou
convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado,
pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.” Ou seja, é
um direito fundamental de todo ser humano.
Nossa
Constituição Cidadã também assegura esse direito ao afirmar no
artigo 5º, inciso VI: “é inviolável a liberdade de consciência
e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias”. Assim sendo, qualquer brasileiro tem o
direito de crer e juntar-se a qualquer grupo religioso.
Comportamentos
apresentados perante a família da senhora Delíria podem ser
enquadrados como atitudes preconceituosas. Preconceito é uma palavra
usada para representar a “não aceitação”. É não aceitar quem
é diferente de nós. Não importa em que somos diferentes, temos de
aceitá-las. Não importa qual religião seguimos ou se não seguimos
nenhuma, precisamos preservar, respeitar e celebrar essa liberdade
tão importante assegurada em nossa constituição. É ela que
garante ser quem somos.
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